Resiliência ou Exaustão? A Pressão Corporativa e os Riscos Psicossociais.

O texto propõe uma reflexão sobre os pedidos de resiliência no ambiente corporativo, frente ao crescente aumento do adoecimento mental dos colaboradores.

Por Eliane dos Anjos Grizotti

5/18/20253 min read

people sitting on chair with brown wooden table
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  1. Introdução

Seja resiliente!

Essa frase se tornou um mantra no mundo corporativo. Empresas exigem que seus colaboradores sejam fortes, adaptáveis e capazes de lidar com qualquer desafio. Mas o que acontece quando essa resiliência se torna uma obrigação, e não uma escolha? Quando a pressão por resultados ignora os impactos psicológicos e transforma o ambiente de trabalho em um espaço de sofrimento silencioso?

O conceito de riscos psicossociais no trabalho ganhou destaque nos últimos tempos. Fatores como carga excessiva de trabalho, falta de controle sobre as atividades, pressão por metas inatingíveis e ausência de reconhecimento afetam diretamente a saúde mental dos colaboradores. Mas, em vez de oferecer suporte, muitas empresas reforçam a ideia de que o funcionário precisa ser resiliente, como se a capacidade de suportar qualquer nível de sofrimento fosse um requisito profissional.

Este artigo questiona os impactos dessa cultura corporativa e discute como a exigência de resiliência pode, na verdade, agravar os riscos psicossociais e comprometer a saúde dos colaboradores.

2.O Que São Riscos Psicossociais?

Os riscos psicossociais são fatores no ambiente de trabalho que afetam a saúde mental e emocional dos colaboradores. Eles incluem:

  • Carga de trabalho excessiva – Funcionários sobrecarregados enfrentam estresse crônico e exaustão.

  • Falta de autonomia – A sensação de não ter controle sobre suas atividades gera frustração e ansiedade

  • Ambiente tóxico – Relações interpessoais difíceis e conflitos constantes aumentam o sofrimento psíquico.

  • Pressão por resultados – Metas inalcançáveis geram desmotivação e sensação de inadequação.

  • Falta de reconhecimento – A ausência de valorização do trabalho afeta a autoestima e o bem-estar.

Esses fatores podem levar a burnout, depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos. No entanto, em vez de abordar essas questões, muitas empresas reforçam a ideia de que os colaboradores precisam se manter resilientes, ignorando os impactos reais do ambiente de trabalho.

3. A Cultura da Resiliência: Solução ou Armadilha?

A resiliência é frequentemente apresentada como uma solução para o estresse corporativo. Mas, quando a cultura organizacional impõe que o colaborador precisa ser forte a qualquer custo, como uma obrigação, ela se torna uma armadilha.

A cultura da resiliência ensina que o funcionário deve suportar a pressão, adaptar-se sem questionar e seguir em frente, independentemente do impacto emocional. Isso cria um ambiente onde:

  • O sofrimento é invisibilizado – Funcionários evitam falar sobre sua saúde mental por medo de parecerem fracos.

  • A culpa recai sobre o indivíduo – Se alguém não consegue lidar com a pressão, é visto como incapaz, e não como vítima de um sistema disfuncional.

  • A empresa se isenta de responsabilidade – Em vez de melhorar o ambiente de trabalho, a organização transfere a responsabilidade para o colaborador.

Essa mentalidade não apenas agrava os riscos psicossociais, mas também desumaniza os trabalhadores, tratando-os como máquinas que devem funcionar independentemente do desgaste emocional.

  1. Impactos na Saúde Mental e Produtividade

A pressão por resiliência tem consequências graves:

  • Burnout – O esgotamento físico e mental causado pelo excesso de trabalho e pela falta de suporte.

  • Ansiedade e depressão – Funcionários vivem em estado de alerta constante, sem espaço para descanso emocional.

  • Baixa produtividade – A longo prazo, o estresse reduz a capacidade de concentração e inovação.

  • Turnover elevado – Profissionais exaustos deixam a empresa, gerando custos e instabilidade organizacional.

  • Absenteísmo elevado – colaboradores precisam faltar repetidamente por estarem adoecidos física e mentalmente.

  • Presenteísmo elevado – colaboradores que, apesar de não faltar, não conseguem cumprir suas metas, estão presentes apenas fisicamente.

Estudos mostram que ambientes corporativos que ignoram os riscos psicossociais têm queda na produtividade e aumento nos afastamentos por problemas de saúde mental.

  1. O Papel das Empresas na Saúde Mental dos Colaboradores

A solução não está em exigir mais resiliência, mas em criar um ambiente de trabalho saudável. Empresas precisam:

  • Reconhecer os riscos psicossociais e implementar políticas de prevenção.

  • Oferecer suporte psicológico e espaços de escuta para os colaboradores.

  • Reduzir a carga de trabalho e garantir equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

  • Valorizar o bem-estar como parte da cultura organizacional, e não apenas como um discurso vazio.

A verdadeira resiliência não está em suportar o sofrimento, mas em transformar o ambiente corporativo para que ele não seja uma fonte de adoecimento.

  1. Conclusão

Resiliência não é sobre suportar tudo. É sobre saber quando algo precisa mudar. A pressão corporativa por resiliência tem sido usada como justificativa para ignorar os riscos psicossociais e sobrecarregar os colaboradores. Mas a verdadeira força não está em suportar o sofrimento, e sim em reconhecer que um ambiente de trabalho saudável é essencial para o sucesso.

Empresas precisam abandonar a cultura da resiliência tóxica e investir na saúde mental de seus funcionários. Porque um colaborador saudável não é aquele que aguenta tudo, mas sim aquele que trabalha em um ambiente onde não precisa suportar o insuportável.